Canto do escritor:
Sente-se e sinta-se à vontade!

sexta-feira, 2 de março de 2012

A Doce e Erótica Fragrância da Juventude (parte 3)





sinto os meus pés vacilando, é como se um poço de areias movediças migratórias  me engolisse. se quer sei onde piso; não tenho coragem ou vontade alguma para lutar; tudo o que sou capaz de perceber é a inércia onde o tempo não há. agora sou o senhor homem não-tempo. 




     A noite se faz presente e Lex, apesar da fome que sente, não consegue comer coisa alguma. Matem-se firme apenas pelos inúmeros drinques que engole no desespero. Ele vai cedo para cama; um filme dos últimos dez anos de sua vida reprisa insistentemente em sua mente; o mundo gira, gira e não sai do lugar. Seu desejo é de saber se dorme ou se está desperto, esforça-se para abrir os olhos, mas nada. Sente fortes náuseas. Vira-se para o lado, apenas para encontrar frio do leito vazio, Lex não quer parar de procurar por fantasmas. Caminha cego e sonolento até ao banheiro, temeroso de confirmar que não é um pesadelo e sim a realidade que vive. 
      Desperta com o choque térmico da água gelada que lhe queimam os poros, mas que trazem a coragem e a força necessária para lhe firmar os pés ao mundo. Veste-se com elegância para desbravar a madrugada desta cidade desconhecida. Admira o reflexo no espelho, tenta vislumbrar, mas não consegue ver nada em seu futuro.
     Adentra pomposamente na vida noturna deste lugar repleto de rostos e pessoas fora de foco. As ruas cheias de transeuntes faz a cidade parecer um formigueiro. Senta-se solitário em um banco na Praça do Fundador. Um clima romântico  se propaga rapidamente cercando-o, redescobre, então, sua digna apatia no que diz respeito ao amor alheio; sinal que seu humor original está voltando ao poucos.
     Seus olhos estão vermelhos e ardem muito, quase não se mantêem abertos. Surge a audição de uma bela canção de sua juventude: "Wish you were here", uma de suas musicas favoritas, ouvi-la neste lugar, neste momento, acalma-lhe o espírito. Procura até encontrar de onde vem aquela música milagrosa. 
     A bandeira do Arco-íris tremula freneticamente impulsionada pelo vento litorâneo. Lex ri ao ver que a sina não é irônica mas sarcástica o suficiente para o levar de volta para os lugares que ele abandonou em outra vida. Na entrada do bar surgem as dúvidas: entrar ou não?, preciso ou não de amor de uma noite apenas? Decide, prefere o celibato ao arrependimento. Afinal ele não é mais um garotão bronzeado atras de traseiros sem identidades ou faces. Quando acha o caminho de volta ouve as primeiras sílabas de "Tears dry on their own" e uma força mística vinda dele próprio o carrega para o bar. 
     A voz aguda de tenor a cappella  transforma a execução da canção em uma performance ímpar, faz valer a pena ter saído da cama. Para Lex, em especial, é um afago delicado no rosto.
     Sentado, clandestino no bar, ouvindo canções e bebendo dry martine, ninguém sabe nada ao seu respeito, em outra época ele sabe retirar o melhor disso, mas hoje está se deixando ser tocado por esse cantor que se quer consegue ver a feição. Não consegue entender a esfera de sedução que está a produzir, a todo o momento alguém o aborda querendo mais que uma conversa amistosa, todas as vezes que isso acontece, sorrindo, ele mostra a aliança de casamento ou fala em francês, alemão ou italiano, o que na maioria das vezes não funciona de fato. Tudo que deseja é beber,cantarolar, sorri e aproveitar uma aura de maravilhamento que se apodera de seus poros neste momento.
     Findada a apresentação de música acústica surge o frenesi e o descontrole da música eletrônica que se aclimata perfeitamente ao ambiente de flertes e sedução. Um lugar assim não é um bom lugar para se estar sozinho quando não há o desejo de dança e ou paquerar, ao menos não para Alexander York, que pega seu drinque e sai pela saída dos fundos.
     Sentado no meio-fio há alguém cabisbaixo, parece chorar ou fumar, pode também ser um mendigo. Mesmo com a guarda do segurança e pela sua visível vantagem física, Lex aproxima-se bem devagar desta figura.
     Inicia-se uma chuva fina, magrela mesmo, megera até. Ao se aproximar, sente-se um idiota, percebe que é apenas um jovem falando ao telefone.
     - Ei, amigo. Deixou cair isto. - Tigre devolve a carteira que Lex acabara de perder e se quer  olha para o homem que o fita para ter certeza que ele não é um ser onírico.
     - Muito obrigado, meu jovem. - de imediato Tigre reconhece a voz.
    - Não por isso. - o sorriso quente de menino perdido acalenta a noite gélida.
    Há uma atmosfera explosiva entre os dois tão visível que o segurança intervém na conversa.
    - Tigre! Tudo certo aí?!
    - Sim. Estou apenas conversando com um turista. Tudo ok, cara!
    Com a intensificação da chuva correm para um abrigo, mas o segurança os vigia atento para qualquer tumulto. 
    - O sir está com problemas de fuso-horário?
    - Você pode me chamar de Alexandre, Lex, se preferir. E sim, estou confuso ainda, mas logo me acostumo... Teu nome é Tigre ou ouvi mal?
    - Sim, este é o meu nome... Então, o que traz o sir a nossa pequena cidade?
    - Um amigo veio pedir alguém em casamento e eu o estou acompanhando.
    - Adoro casamentos. Espero que tudo de certo para o teu amigo, afinal de contas de Londres até aqui é uma viagem longa.
    - Como você adivinhou que viemos de Londres?
    - Não adivinhei, deduzi pelo sotaque, típico do lado nobre londrino.
    - Espertinho você.
    - Obrigado, sir.
    - Meu jovem, você poderia me informar onde eu encontro uma farmácia. Não consigo me localizar ainda nesta cidadezinha e não consigo dormir.
    - Nesse horário é impossível encontrar uma farmácia aberta. Não esqueça que o senhor está em uma cidade interiorana.
    Chuvas de verão, elas terminam tão rápidas como se iniciam, assim como os encontros atípicos que elas proporcionam.Tigre se cala para mais uma vez analisar Lex de cima abaixo, desta vez nota a aliança no anelar esquerdo. Não há maior interesse por uma maior aproximação de um para com o outro.
    - Até mais ver, sir! - o homem que ainda é um adolescente com rosto de menino adentra uma ruela encoberta por uma névoa densa e úmida deixando Lex mais cansado do que só a observa-lo sumir. 
    Inegavelmente Tigre é muito atraente....


(fim da 3 parte)


Alonso do Andes



5 comentários:

  1. Interessante perceber que nem sempre o tempo é o tempo que queremos ter, ou encontrar.
    Cadinho RoCo

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  2. Oi menino, tudo bem?
    A gente fica super curioso pra saber a continuação né? rs
    Aí quando acaba, fica aquele gostinho de quero mais, rsrs.
    Bjo menino

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  3. Embora o tema do conto não me atraia, devo dizer que você escreve muito bem, Fumaça.
    Continue a escrever. ;)

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